Espaços linha e coluna

Em álgebra linear, os espaços linha e coluna referem-se aos espaços vetoriais gerados pelos conjuntos dos vetores linha e coluna de uma matriz. A dimensão do espaço linha de uma matriz é chamada de posto linha, enquanto que a dimensão do espaço coluna é chamada posto coluna. Como o posto linha é igual ao posto coluna é usual usar, simplesmente, o termo posto sem fazer referência a linha ou coluna. Também, usamos a notação R ( A ) {\displaystyle R(A)} para nos referirmos ao posto da matriz A {\displaystyle A} . [1][2][3]

Definição

Seja A = [ a i , j ] i , j = 1 m , n {\displaystyle A=[a_{i,j}]_{i,j=1}^{m,n}} uma matriz real m × n {\displaystyle m\times n} .

Espaço linha

O espaço linha de A {\displaystyle A} é o espaço vetorial gerado pelo conjunto de vetores { a 1 , a 2 , , a m } {\displaystyle \{\mathbf {a} _{1},\mathbf {a} _{2},\ldots ,\mathbf {a} _{m}\}} , onde:

a i = [ a i , 1 a i , 2 a i , n ] , i = 1 , , m {\displaystyle \mathbf {a} _{i}={\begin{bmatrix}a_{i,1}&a_{i,2}&\ldots &a_{i,n}\end{bmatrix}},\quad i=1,\ldots ,m} .

A dimensão do espaço linha de A {\displaystyle A} é chamada de posto linha da matriz.[1][2][3]

Espaço coluna

O espaço coluna de A {\displaystyle A} é o espaço vetorial R ( A ) {\displaystyle R(A)} gerado pelo conjunto de vetores { a 1 , a 2 , , a n } {\displaystyle \{\mathbf {a} _{1},\mathbf {a} _{2},\ldots ,\mathbf {a} _{n}\}} , onde:

a j = [ a 1 , j a 2 , j a m , j ] , j = 1 , , n {\displaystyle \mathbf {a} _{j}={\begin{bmatrix}a_{1,j}\\a_{2,j}\\\vdots \\a_{m,j}\end{bmatrix}},\quad j=1,\ldots ,n} .

A dimensão do espaço coluna de A {\displaystyle A} é chamada de posto coluna da matriz.[1][2][3]

Propriedades do espaço linha

O espaço linha de uma matriz possui as seguintes propriedades:[1]

  1. O posto linha de uma matriz é menor ou igual ao número de colunas da mesma.
  2. Se A {\displaystyle A} e B {\displaystyle B} são matrizes equivalentes por linha, então elas têm o mesmo posto linha.

Demonstração

1. O posto linha de uma matriz é menor ou igual ao número de colunas da mesma.

Seja A {\displaystyle A} uma matriz real m × n {\displaystyle m\times n} . Então, os vetores linhas de A {\displaystyle A} formam um subconjunto do espaço euclidiano n {\displaystyle n} -dimensional. Ou seja, a dimensão do espaço linha é no máximo n {\displaystyle n} .

2. Se A {\displaystyle A} e B {\displaystyle B} são matrizes equivalentes por linha, então elas têm o mesmo posto linha.

Com efeito, se A {\displaystyle A} e B {\displaystyle B} são matrizes equivalentes por linha, então as linhas de A {\displaystyle A} são combinações lineares das linhas de B {\displaystyle B} e vice-versa. Portanto, o espaço vetorial gerado pelas linhas de A {\displaystyle A} é igual ao espaço vetorial gerado pelas linhas de B {\displaystyle B} , como queríamos demonstrar.

Propriedades do espaço coluna

O espaço coluna de uma matriz possui as seguintes propriedades:[1]

  1. O posto coluna de uma matriz é menor ou igual ao número de linhas da mesma.
  2. O espaço imagem de uma transformação linear é igual ao espaço coluna da matriz que a represente.
  3. O posto de uma transformação linear é igual ao posto coluna de qualquer matriz que a represente.

Demonstração

1. O posto coluna de uma matriz é menor ou igual ao número de linhas da mesma.

Seja A {\displaystyle A} uma matriz real m × n {\displaystyle m\times n} . Então, os vetores coluna de A {\displaystyle A} formam um subconjunto do espaço euclidiano m {\displaystyle m} -dimensional. Ou seja, a dimensão do espaço linha é no máximo m {\displaystyle m} .

2. O espaço imagem de uma transformação linear é igual ao espaço coluna da matriz que a represente.

Seja T : V W {\displaystyle T:V\to W} uma transformação linear do espaço euclidiano V {\displaystyle V} de dimensão m {\displaystyle m} no espaço euclidiano W {\displaystyle W} de dimenão n {\displaystyle n} . Seja, também, A {\displaystyle A} uma matriz que representa T {\displaystyle T} , i.e.:

T ( x ) = A x {\displaystyle T(\mathbf {x} )=A\mathbf {x} } .

Daí, vemos que y {\displaystyle \mathbf {y} } pertence à imagem de T {\displaystyle T} se, e somente se, existe x V {\displaystyle \mathbf {x} \in V} tal que y = A x {\displaystyle \mathbf {y} =A\mathbf {x} } . Ou seja, y {\displaystyle \mathbf {y} } é uma combinação linear dos vetores coluna de A {\displaystyle A} , como queríamos demonstrar.

3. O posto de uma transformação linear é igual ao posto coluna de qualquer matriz que a represente.

Segue, imediatamente, da propriedade 2.

Relação entre os espaços linha e coluna

Os espaços linha e coluna de uma matriz possuem as seguintes relações:[1]

  1. O espaço coluna de uma matriz é igual ao espaço linha de sua transposta.
  2. O posto coluna de uma matriz é igual ao seu posto linha.

Observamos que a propriedade 2. justifica denotar o posto coluna e o posto linha de uma matriz A {\displaystyle A} por R ( A ) {\displaystyle R(A)} ou posto ( A ) {\displaystyle {\text{posto}}(A)} , sem referência a linha ou coluna.

Demonstração

1. O espaço coluna de uma matriz é igual ao espaço linha de sua transposta.

Com efeito, o espaço linha de uma matriz é o espaço gerado pelo conjunto de vetores que formam as linhas da mesma. Agora, as linhas da transposta de uma matriz são as colunas da matriz original, donde segue o enunciado.

2. O posto coluna de uma matriz é igual ao seu posto linha.

Por definição, o posto linha de uma matriz é a dimensão do seu espaço linha. Sejam A {\displaystyle A} uma matriz e U {\displaystyle U} a matriz escalonada reduzida por linha de A {\displaystyle A} . Então, o número de vetores coluna de A {\displaystyle A} que são linearmente independentes é igual ao número de uns principais da matriz U {\displaystyle U} . Mas, este é também o número de vetores linha de U {\displaystyle U} que são linearmente independentes. Como A {\displaystyle A} e U {\displaystyle U} são matriz equivalentes por linha, temos que elas têm o mesmo posto linha. Concluímos, então, que o ponto coluna de A {\displaystyle A} é igual ao seu posto linha.

Sejam v 1 , v 2 , , v m {\displaystyle \mathbf {v} _{1},\mathbf {v} _{2},\ldots ,\mathbf {v} _{m}} os vetores coluna de uma matriz A {\displaystyle A} n × m {\displaystyle n\times m} .

Relação fundamental

Se A {\displaystyle A} é uma matriz m × n {\displaystyle m\times n} , então R ( A ) + N ( A ) = n {\displaystyle R(A)+N(A)=n} . Aqui, R ( A ) {\displaystyle R(A)} denota o posto de A {\displaystyle A} , enquanto N ( A ) {\displaystyle N(A)} denota sua nulidade.[1]

Demonstração

A nulidade de A {\displaystyle A} é a dimensão do espaço nulo de A {\displaystyle A} , i.e., a dimensão do espaço gerado pelas soluções de A x = 0 {\displaystyle A\mathbf {x} =0} . Seja U {\displaystyle U} a matriz escalonada reduzida de A {\displaystyle A} . O posto de A {\displaystyle A} é igual ao número de linhas não nulas de U {\displaystyle U} , enquanto que a nulidade A {\displaystyle A} é igual a n {\displaystyle n} menos o número de linhas não nulas de U {\displaystyle U} . Ou seja, R ( A ) + N ( A ) = n {\displaystyle R(A)+N(A)=n} .

Posto e singularidade

Os seguintes resultados relacionam o conceito de singularidade com o posto de uma matriz quadrada:[1]

  1. Uma matriz quadrada A {\displaystyle A} n × n {\displaystyle n\times n} é não singular se, e somente se, R ( A ) = n {\displaystyle R(A)=n} .
  2. O determinante de uma matriz A {\displaystyle A} n × n {\displaystyle n\times n} é não nulo se, e somente se, R ( A ) = n {\displaystyle R(A)=n} .
  3. Um sistema linear quadrado A x = b {\displaystyle A\mathbf {x} =\mathbf {b} } de ordem n {\displaystyle n} tem uma única solução se, e somente se, R ( A ) = n {\displaystyle R(A)=n} .
  4. Um conjunto de vetores coluna { u 1 , u 2 , , u n } {\displaystyle \{\mathbf {u} _{1},\mathbf {u} _{2},\ldots ,\mathbf {u} _{n}\}} de um espaço euclidiano n {\displaystyle n} -dimensional é linearmente independente se, e somente se, a matriz formada [ u 1 u 2 u n ] {\displaystyle {\begin{bmatrix}\mathbf {u} _{1}&\mathbf {u} _{2}&\ldots &\mathbf {u} _{n}\end{bmatrix}}} tem determinante não nulo.

Demonstração

1. Uma matriz quadrada A {\displaystyle A} n × n {\displaystyle n\times n} é não singular se, e somente se, R ( A ) = n {\displaystyle R(A)=n} .

Com efeito, A {\displaystyle A} é não singular se, e somente se, a nulidade de A {\displaystyle A} for igual a zero. O resultado segue, então da relação fundamental demonstrada acima.

2. O determinante de uma matriz A {\displaystyle A} n × n {\displaystyle n\times n} é não nulo se, e somente se, R ( A ) = n {\displaystyle R(A)=n} .

Isto segue do resultados 1. demonstrado acima, uma vez que o determinante de uma matriz A {\displaystyle A} n × n {\displaystyle n\times n} é não nulo se, e somente se, A {\displaystyle A} é não singular.

3. Um sistema linear quadrado A x = b {\displaystyle A\mathbf {x} =\mathbf {b} } de ordem n {\displaystyle n} tem uma única solução se, e somente se, R ( A ) = n {\displaystyle R(A)=n} .

Com efeito, um sistema linear quadrado A x = b {\displaystyle A\mathbf {x} =\mathbf {b} } de ordem n {\displaystyle n} tem uma única solução se, e somente se, A {\displaystyle A} é não singular. Portanto, este resultado segue do demonstrado no item 1. desta seção.

4. Um conjunto de vetores coluna { u 1 , u 2 , , u n } {\displaystyle \{\mathbf {u} _{1},\mathbf {u} _{2},\ldots ,\mathbf {u} _{n}\}} de um espaço euclidiano n {\displaystyle n} -dimensional é linearmente independente se, e somente se, a matriz formada [ u 1 u 2 u n ] {\displaystyle {\begin{bmatrix}\mathbf {u} _{1}&\mathbf {u} _{2}&\ldots &\mathbf {u} _{n}\end{bmatrix}}} tem determinante não nulo.

Com efeito, uma matriz A {\displaystyle A} é invertível se, e somente se, suas colunas são linearmente independentes.


Referências

  1. a b c d e f g h Kolman, B. (2013). Álgebra linear com aplicações 9 ed. [S.l.]: LTC. ISBN 9788521622086 
  2. a b c Strang, Gilbert (2010). Álgebra linear e suas aplicações 4 ed. [S.l.]: Cengage. ISBN 9788522107445 
  3. a b c Lay, David (2013). Álgebra linear e suas aplicações 4 ed. [S.l.]: LTC. ISBN 9788521622093 
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