Tayap
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Tayap | ||
Localização | ||
Tayap | ||
Coordenadas | 3° 49′ 02,067″ N, 10° 54′ 05,106″ L | |
País | Camarões | |
Região | Centro | |
Departamento | Nyong-et-Kéllé | |
Características geográficas | ||
População total | 254 hab. | |
Altitude | 350 m |
Tayap é uma pequena aldeia situada na Região Centro dos Camarões entre a capital do país, Yaoundé (86 km) e Douala (164 km)[1]. A aldeia de Tayap depende da província de Nyong-et-Kellé et do bairro de Ngog-Mapubi.
Situada na zona Noroeste da floresta da bacia do Congo, segundo maciço florestal tropical do mundo, depois da floresta Amazónica, a aldeia de Tayap sofre os danos da desflorestação nos Camarões causada por diferentes fatores, tais como o aumento da taxa de crescimento da população, o desenvolvimento da exploração florestal, a coleta de madeira de fogo e a prática da agricultura de queimada[2].
Desde 2011, Tayap é o teatro de uma programa piloto de agroecologia e de ecoturismo que visa proteger a biodiversidade das suas terras e desenvolver atividades geradoras de rendimentos para os seus habitantes.
Geografia
Localização
A aldeia de Tayap localiza-se a 3°49°2.067’’N e 10°54'5.106’’E. Tayap é limítrofe com as aldeias Omog e Mamb a Norte, Mamb Kelle e Song Mpeck a Oeste, Lamal Pougue a Leste e Nlep be e Ngong ao Sul[3].
A aldeia de Tayap situa-se a 86 km de Yaoundé (a 12 km de Boumnyebel na estrada nacional N°3 Douala-Yaoundé) e prolonga-se todo o logo de uma pista de mato de uma dezena de quilómetros, até a Via Rápida Douala-Yaoundé. Tayap está ligada à nacional N°3 Douala-Yaoundé por uma pista relativamento pouco conservada, o que torna os deslocamentos difíceis na época das chuvas. A entrada da aldeia de Tayap encontra-se ao nível da aldeia de Omog sobre a estrada nacional N°3 que liga Douala e Yaoundé. A aldeia de Tayap situa-se a uma distância de cerca de 6 quilómetros de Omog.
Clima
Tayap beneficia de um clima húmido de tipo equatorial com quatro estações: duas estações secas e duas estações chuvosas. A grande estação das chuvas ocorre entre Agosto e Outubro, e a pequena estação das chuvas, de Março a Maio. A grande e a pequena estação seca entre Junho e Julho. A estação meteorológica mais próxima é a de Eséka que fica a cerca de 20 km a Sudoeste de Tayap[4]. A temperatura média anual ronda os 25°C. A pluviometria varia entre 1 500 e 2 500 mm de chuva por ano.
Geologia e speleologia
A aldeia de Tayap caracteriza-se por uma altitude média de cerca de 350 metros e por colinas com vertentes abruptas. A aldeia de Tayap apresenta um subterrâneo rico em rocha siliciosa (quartzito) e em rochas magmáticas tais os piroxénitos e os micaxistos[3].
Tayap é rica em sítios speleológicos. Sobre a sua colina de mais de 544 metros de altitude, encontram-se grutas ou rochas tendo sofrido deformações físicas e formando uma sucessão de escadas escalonadas. Uma dessas grutas abriga ninhos de Picatartes carecas (Picathartidae), ave ameaçada de extinção[5]. Uma das rochas, de forma triangular, constitui um verdadeiro abrigo sobre uma altura de mais de 100 metros e serviu de refúgio aos nacionalistas dos Camarões aquando da luta pela independência dos Camarões.
Meio-ambiente
Tayap situa-se na zona da Floresta da Bacia do Congo. A vegetação é essencialmente florestal. Dois tipos de florestas coexistem: a floresta primária que se encontra no cimo das colinas, e a floresta secundária que resulta da destruição das florestas primárias para a agricultura ou para a exploração florestal. A floresta da bacia do Congo sofreu os danos da desflorestação sobre zonas bem segmentadas[6]. Esta desflorestação explica-se primeiro pelo desenvolvimento importante da exploração florestal, alternativa económica encontrada pelos Camarões para responder à baixa do preço do cacao e do café, os seus principais recursos em 1990, mas também pela prática da cultura de queimadas, habitual nas zonas florestais intertropicais[2]. A taxa anual de desflorestação nos Camarões varia entre 0,5 e 1,2% por ano. Em termos absolutos, as estimativas da desflorestação anual variam entre 80 000 e 200 000 hectares[2]. A aldeia de Tayap deveria contar ainda 1 400 ha de floresta, até 1200 metros de altitude, ou seja, cerca de 30% da sua superfície. Ela subsiste essencialmente no cimo das colinas.
História
Após a Segunda Guerra Mundial, os Camarões ficam sob a autoridade da França e da Inglaterra e obtêm, tal como o Togo, o estatuto de território associado da União Francesa. A partir dos anos 1940 e 1950, a União das Populações dos Camarões (UPC), movimento de liberação nacional levado por Ruben Um Nyobe, desempenha um papel central em direção à Independência dos Camarões. Em 1955, na sequência de violências que levaram à morte de inúmeros camaronenses, a UPC é dissolvida e os seus dirigentes entram em resistência. O território de Tayap faz parte dos bastiões da resistência nacionalista no país Bassa levada a cabo por Ruben Um Nyobe[7]. Segundo o historiador do pós-colonialismo Achille Mbembe, a aldeia de Omog contava desde 1956 uma quinzena dos seus camponeses envolvidos na resistência no mato[8].
Administração e política
Tayap é uma chefia de terceiro grau. Nos Camarões, as chefias tradicionais são um escalão da organização admnistrativa. As chefias eram micro-estados antes da colonização, e podem ser do primeiro, segundo ou terceiro grau, consoante a sua importância territorial ou histórica. O último chefe à data da aldeia, Yogo Germain François, morreu a 17 de Junho de 2008. Desde então, a aldeia ficou sem chef. Uma eleição transparente deve ser organizada pela administração camaronesa para dotar a aldeia de uma chef de aldeia eleito por modo democrático. O funcionamento, a gestão e o desenvolvimento da aldeia são atualmente orientados pela Associação dos cidadãos das aldeias de Omog e de Tayap (AROTAD). Dois partidos coexistem na aldeia: a União das Populações dos Camarões (UPC) e a Associação Demática do Povo Camaronsense (RDPC). Nas últimas eleições conjuntas legislativas e municipais, que tiveram lugar nos Camarões em 30 de Setembro de 2013, a UPC obteve 32% dos votos contra 68% para a RDPC.
População e sociedade
Demografia
Tayap contava 254 habitantes (57 lares) incluindo 132 homens (52 %) e 122 mulheres (48 %) segundo os últimos Censos de 2010[9]. A população de Tayap representa 2,5 % da população da municipalidade de Ngog Mapubi. A população é maioritariamente jóvem e constituída essencialmente por Bassas à qual se junta uma minoria (8 %) constituída por cerca de vinte outras tribos dos Camarões (Bamenda, Bamileke, Hauçá, Béti). A população está espalhada ao longo das estradas e pistas numa multitude de aldeias. Estas últimas estão distantes de 0,5 a 2 km entre elas. Tayap centro e Libolo constituem os dois regrupamentos principais. A totalidade da aldeia conta cerca de sessenta habitações.
Saúde
Não existe nenhum estabelecimento de saúde em Tayap. O centro de saúde mais próximo fica em Boumnyebel, a 12 km de Tayap. O hospital mais próximo fica em Yaoundé (86 km de Tayap)[10].
Outros serviços sociais básicos
A aldeia de Tayap é alimentada com água potável através de três poços ou furos, servida por uma bomba manual de alavanca. A água é depois encaminhada por baldes ou bidões até aos lugares de utilização. A aldeia de Tayap não está eletrificada apesar da presença de uma linha de alta tensão ao nível da aldeia de Omog. A ausência de eletricidade constitui um entrave importante no desenvolvimento de Tayap[10]. Os ventos muito fracos não permitem optar pela solução eólica. Por outra parte, não existe rio com potencial hidro-elétrico (excepto a cerca de 8 km, acessível apenas por um caminho de mato).
Educação
Em 2003, Tayap dota-se de uma escola primária construída pelas populações locais. Esta escola acolhe 34 alunos a partir dos 6 anos, durante o seu primeiro ano de funcionamento, e 75 desde 2010. A escola situa-se a meio-caminho (cerca de 1,5km) das aldeias de Libolo e Tayap. Em Abril de 2006, o governo camaronense acordou duas salas de aulas adicionais levando a quatro as salas de aulas da escola pública de Tayap. Cada classe regrupa dois níveis de modo a assegurar os seis níveis da escola primária. Após o ciclo primário, os alunos da aldeia continuem a sua escolaridade nos colégios de ensino secundário (CES) de Lamal-Pougoue ou de Mamb[11].
Religião
A população de Tayap é maioritariamente cristã, de confissão católica e protestante. Dois lugares de culto existem na aldeia: a igreja presbiteriana camaronense e a igreja católica.
Cultura
A população de Tayap está ligada a quatro elementos da sua cultura:
- A alimentação com o prato lendário bongo’o tchobi, um prato de peixe que se acompanha de macabo, banana plantão, mandioca ou pau de mandiaca, o pequeno-almoço local que tem por base o bolo de mandioca chamado mintoumba e o tradicional vinho de palma.
- Pau de mandioca
- Peixe grelhado
- Chocolate
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- Os ritmos da terra com os cantos do Ngola e a dança dos rins Assiko
- O casamento cultural em três etapas (Li bat Ngond que significa « o pedido em casamento » em bassa, li ti pôs que significa « dar a garrafa » para o noivado e bijeck bi lon que significa « alimento de família » para o casamento tradicional)
- A fitoterapia que valorisa as plantas da terra
Economia
Em 2013, a população ativa contava 179 pessoas. O essencial dos empregos da aldeia provém da agricultura.
Agricultura
A agricultura é a principal fonte de rendimentos da aldeia de Tayap. Pratica-se igualmente o comércio dos produtos florestais não lenhosos. A atividade concentra-se sobre a agricultura com culturas de renda (cacao e palmeiras de óleo), as culturas alimentares (bananeiras plantão, mandioca, macabo, taro, amendoim, banana doce), árvores fruteiras (safu, manga, limão, laranja, toranja, papaia, nós de cola) e hortículas (pimento, legumes). O comércio destes produtos agrícolas é praticado em Boumnyebel e em Yaoundé.
- Produtos floresteiros não lenhosos
- Cola de mato
- Laranjas
- Cacao
- Campo de macabo
Outras atividades
As populações de Tayap praticam também a pequena criação, a pesca e a caça. Tayap dispõe de 6 unidades de prensagem de óleo de palma e de uma micro-finança solidária. Com a construção de duas ecolodges e a valorização de casas de hóspedes existentes, uma oferta de ecoturismo está a desenvolver-se como um atividade de rendimentos complementares na aldeia. A exploração floresteira ilegal faz igualmente parte dos meios de subsistência de certos habitantes da aldeia[12].
Iniciativas locais de desenvolvimento
Desde 2011, Tayap é o teatro de um programa piloto de desenvolvimento de agro-ecologia e de ecoturismo que visa a lutar contra a desflorestação, a proteger a biodiversidade das terras da aldeia e a desenvolver as atividades geradoras de rendimentos para os seus habitantes. Este programa intitulado Les Vergers Ecologiques de Tayap recebeu em 2011 o Prémio SEED, concedido pela iniciativa SEED (Supporting Entrepreneurs for Environment and Development), parceria mundial a favor do desenvolvimento sustentável criado em 2002 pelo PNUE, pelo PNUD e pelo UICN na cimeira mundial sobre o desenvolvimento sustentável em Joanesburgo[13].
Entre 2014 e 2015, o programa permitiu restaurar 110 hectares de floresta, oraganizar 3 salas de Aula Verde acolhendo crianças da localidade e criar alguns empregos verdes para os jóvens. Localmente, duas eco-house permitem acolher os turistas nom o objetivo de desenvolver a oferta eco-turística como fonte alternativa de rendimento para os seus habitantes[14]. Um fundo rotativo de 1 000 000 FCFA foi igualmente instalado pela comunidade com o apoio do SGP/GEF do PNUD para conceder microcréditos às mulheres, financiando desse modo as iniciativas empresariais[15]. Uma série de bandas desenhadas que representam a aventura do desenvolvimento de Tayap e da problemática das aldeias africanas face à desflorestação e à prática da cultura de queimadas foi igualmente criada no quadro do programa.
Em 2015, a AFG (Agência Francesa de Deenvolvimento) e o CIRAD (Centro de Cooperação Internacional em pesquisa agrônoma para o Desenvolvimento) concederam o Prémio « Challenge Climat Agriculture et Forêts », Mitigação do distúrbio climático em agricultura e criação às hortas écológicas de Tayap. Em 2016, " ISTF Innovation Prize " de Yale University é concedido ao projeto.
Transportes
Tayap situa-se a cerca de uma hora de Yaoundé e duas horas de Douala, passando pela estrada nacional que as liga. O traçado da rede ferroviária Douala-Yaoundé não desserve a aldeia de Tayap.
Referências
- ↑ Agripo, 2014, La monographie du village de Tayap. Tayap, Éditions Agripo, 36 p.
- ↑ a b c Center for International Forestry Research, Collectif, L’Impact de la Crise Économique sur les Systèmes Agricoles et le Changement du Couvert Forestier dans la Zone Forestière Humide du Cameroun, 2000 (consultada a 21 de Novembro de 2014), p. 16
- ↑ a b Clément Yonta Ngoune, « Le contexte géologique des indices de talc de la région de Boumnyebel », Nancy, Université de Henri Poincaré Nancy I et université de Yaoundé I (thèse de doctorat en Sciences de la Terre), 2010 (consultada a 21 de Novembro de 2014), p. 425
- ↑ C. Olivry, MESRES ORSTOM, Monographies hydrologiques de l’OSTOM, Paris, 1986 (ISBN 2709908042), p. 70 e 88
- ↑ « Convention sur le commerce international des espèces de faune et de flore sauvages menacées d’extinction conclue à Washington », 3 de Março de 1973 (consultado a 14 de Outubro de 2014)
- ↑ De Wasseige C., de Marcken P., Bayol N., Hiol Hiol F., Mayaux Ph., Desclée B., Nasi R., Billand A., Defourny P. et Eba’a R., Les forêts du bassin du Congo - État des Forêts 2010, Luxembourg, Office des publications de l’Union Européenne, 2012, 276 p. (ISBN 978-92-79-22717-2), p. 17
- ↑ « La guerre cachée de la France au Cameroun », sur Libération, 17 de Setembro de 2008 (consultado a 15 de Outubro de 2014)
- ↑ Achille Mbembe, La naissance du maquis dans le Sud-Cameroun (1920-1960). Histoire des usages de la raison en colonie, Karthala, Paris, 1996, 438 p. (ISBN 9782865376001)
- ↑ Troisième Recensement Général de la Population et de l’Habitat (3e RGPH), Bureau Central des Recensements et des Études de Population du Cameroun (BUCREP), 2010
- ↑ a b « Système d'Information Géographique », Cameroun (consultado a 15 de Outubro de 2014)
- ↑ « Mamb : le CES ouvre ses portes » Arquivado em 25 de março de 2016, no Wayback Machine. (consultado a 15 de Outubro de 2014)
- ↑ « Rapport de la brigade nationale de contrôle pour l'exercice 2013 du Ministère des eaux et de la forêt »[ligação inativa] (consultado a 15 de Outubro de 2014)
- ↑ « Tayap Eco-Orchards », sur seedinit.org (consultada a 14 de Outubro de 2014)
- ↑ « AGRIPO, nos réalisations en chiffres » (consultada em 6 de Fevereiro de 2016).
- ↑ « Projet pilote de développement agro-écologique et éco-touristique pour la protection de la biodiversité et des terres dans le village de Tayap » (consultada a 14 de Outubro de 2014).
Ver também
Bibliografia
- Achille Mbembe, 1996, La naissance du maquis dans le Sud-Cameroun (1920-1960). Histoire des usages de la raison en colonie, Paris, Karthala, 438 p., (ISBN 9782865376001)
- Clément Yonta Ngoune, 2010, Le contexte géologique des indices de talc de la région de Boumnyebel, Nancy, Université de Henri Poincaré Nancy I et université de Yaoundé I (tese de doutoramento em Ciências da Terra), 425 p.
- Agripo, 2014, La monographie du village de Tayap. Tayap, Éditions Agripo, 36 p.
- Agripo, Winnie et Stéphanie Dordain, Tayap, la forêt enchantée, CreateSpace Independent Publishing Platform, 2015, 42 p. (banda desenhada)
- Adeline Flore Ngo Samnick (en collaboration avec Mireille Esther Ngo Mbanga et Émilienne Lionelle Ngo Samnick), Aux 1 000 saveurs de Tayap, CreateSpace Independent Publishing Platform, 2016, 104 p. (ISBN 978-1519271174)
- Agripo, Lucia Iliane Rojas et Patricia Ventura Parra, Le garçon aux yeux saphir: Un conte de Tayap, CreateSpace Independent Publishing Platform, 2016, 46 p. (ISBN 9781530075287)
Artigos relacionados
- Desflorestação nos Camarões
Ligações externas
- Agripo
- Nicolas Richoffer, « Les vergers écologiques ont tout bon au Cameroun », 20 minutes, 23 de Fevereiro de 2015
- « Les nouveaux résilients (4/7) : la militante antibrûlis », Terra Eco, 6 de Março de 2015
- Christophe Paget, « Le journal de la COP21 du vendredi 11 décembre », RFI, 11 de Dezembro de 2015 (entrevista)
- Josiane Kouagheu, « Tayap, le village écologique qui crée des emplois verts au Cameroun », Le Monde Afrique, 11 de Fevereiro de 2016
- Portal dos Camarões